Coisas que "não"
A vida parece se construir sobre uma busca difusa. Digo difusa porque o que se deseja <material ou intangível> a depender de quem deseja (falo por mim e só) pode mudar a qualquer momento, por qualquer motivo. Hoje quero uma coisa, amanhã outra. E tudo bem. Tento ficar confortável com isso. A vida é tão imensa quanto o oceano que cruzei certa vez atrás de um sonho. E por isso, não cabe em um formato único. Dá sempre para mudar de ideia, para se reinventar, ainda que isso signifique uma perda.
Vez ou outra é preciso abrir a caixinha onde guardamos desejos, sonhos e vontades e fazer uma faxina. Tirar o pó dos antigos quereres e verificar se ainda faz sentido mantê-los; realocar as vontades que resistem; e jogar no lixo aquelas outras que a gente já nem se lembra mais o porquê guardou ali.
Estou nessa função agora — meio perdida, peneirando o que é genuinamente meu do que eu só acreditava querer. O que inclui ambições alheias que tomei como minhas. É uma atividade perigosa, onde há o risco de fazer a minha identidade desmoronar.
Na incerteza então do que quero, decidi pensar no oposto: tudo o que não quero. Não me limitei a isso e estendi ao que não aceito, não suporto, não permito. Uma lista feita de recusas, de limites traçados. Talvez seja por ela que eu comece minha reconstrução — não pelo sim, mas pelo não.
Compartilho-a com vocês hoje: