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Era final de 2016, eu me lembro. Depois de pagar o self-service da esquina com o vale alimentação, voltamos ao trabalho. Com o escritório ainda vazio, acompanhados de nossos Chicabons, começamos a compartilhar nossos sonhos. Sem julgamentos, sem as limitações daquele espaço cinza; inclusive, movidos pela vontade de sumir dali, nem que fosse apenas na nossa cabeça.
Confidenciamos um ao outro tudo o que queríamos para o futuro. Seus olhos brilhavam como se carregassem estrelinhas enquanto você dizia que ia para Londres. Não para turistar, mas para morar, aprender inglês, andar todos os dias pelas mesmas ruas até sentir-se em casa. Depois, voltar para o Brasil, para mim, com histórias e um chaveiro do Big Ben de presente. Eu falava que também queria viajar. Muito — duas, três, quatro vezes por ano. Alguns destinos por aqui mesmo; outros, bem longe. Comprar um apartamento com janelas grandes naquele bairro de novo rico. Ríamos enquanto o sorvete escorria pelas nossas mãos, sem compromisso algum com esses desejos. Apenas brincando de fugir, exercitando o nosso direito de sonhar.
Você partiu cedo. Antes que esses sonhos pudessem sequer tentar se realizar. Mas enquanto estavam vivos — você e seus devaneios —, um alimentava o outro numa relação otimista e provocativa.
Eu fiquei. E acabei herdando seus sonhos. Estou conseguindo realizar alguns deles, acredita? Mas o mais importante é que não deixei de lado a nossa brincadeira favorita: imaginar futuros possíveis e impossíveis, ensaiar formas diferentes de viver, sonhar com realidades incabíveis.