Se uma das suas metas para 2025 é ler mais (ou ler melhor), aqui vai uma lista de livros que marcaram minha trajetória como leitora ultimamente. São sugestões com base na minha experiência de já ter lido coisas incríveis e desastrosas, na intenção de te incentivar a manter o ritmo de um livro por mês; histórias que considero relevantes, amplas, heterogêneas, vindas de diferentes cantos do mundo, escritas por mentes e corpos diversos.
Janeiro: Peitos e Ovos - Mieko Kawakami
Haruki Murakami para mulheres millennials.
Tenho lido muito sobre maternidade, mas sempre a partir de perspectivas diferentes e esse é um livro nada óbvio sobre isso. Poucas coisas acontecem, de fato, mas o ponto forte é uma narrativa emocionalmente profunda, muito sensível de uma jovem e imersa em dúvidas que confronta a ansiedade de envelhecer sozinha e sem filhos, em meio às opressões sociais que cercam a vida das mulheres no Japão.
São descrições longas de sentimentos, acontecimentos banais transformados em cenas lindas, tudo muito íntimo.
Fevereiro: Modos de Ver - John Berger
Num resumo nada justo, esse é um livro que nos ensina a olhar para a arte.
Mas vai muito além disso: é uma reflexão, em texto e imagens, sobre o modo como as nossas ideias de beleza, verdade, gênero e classe social moldam radicalmente a perspectiva que temos da realidade. Fala também sobre as mensagens subliminares que o poder, a propriedade, a dominação masculina e a objetificação da mulher deixaram na nossa cultura.
Um livro curtinho, mas potente.
Março: O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe
É um dos livros mais lindos que já li em toda a minha vida.
Sem exageros.
Abril: Tem um coração que faz barulho de água - Cris Lisbôa
Se você acompanha a Cris ou a escola dela, a Go Writers, no Instagram, já sabe o que esperar desse livro. São cartas não enviadas, áudios apagados, bilhetes perdidos, notas esquecidas no celular e trechos de músicas. “Suspiros do meu processo criativo”, segundo ela.
São textos lindos e que instigam a gente a (tentar) escrever com o coração na ponta dos dedos, assim como a Cris.
Maio: Mudar: Método - Édouard Louis
Sim, já falei MUITAS vezes sobre esse livro (inclusive, foi a leitura do Clube Um Passo de Dezembro), não teve UM AMIGO que passou ileso de me ouvir falar sobre Mudar: Método nas últimas semanas, kkk. Mas não exagero quando digo que lê-lo mudou tudo em mim.
Para escapar da pobreza, da homofobia e dos muitos espectros de violência que rodeiam seu meio de origem, o livro conta a trajetória de Édouard ao se agarrar aos estudos como forma de se libertar de um futuro violento e limitado.
Radicalmente honesto.
Junho: A boa sorte - Rosa Montero
O primeiro livro do nosso clube! Eu já tinha lido os livros de não ficção de Rosa Montero e tinha gostado, mas A boa Sorte foi o que me pegou mesmo.
Uma história que começa com um cara que salta de um trem numa cidade que ele não conhece, no meio do nada e esquecida pelo tempo. Em alguns minutos, ele decide morar nesse fim de mundo.
Uma narrativa ágil, misteriosa, engraçada que daria uma ótima série espanhola de suspense da Netflix.
Julho: Cachorro Velho - Teresa Cárdenas
Esse foi lido no PANA, o meu outro clube de leitura (só de pessoas escritoras da América Latina).
Escrito por uma descendente de escravos, o livro é um retrato duro e comovente da desumanidade da escravidão: por toda a vida, Cachorro Velho foi escravo no engenho de açúcar do patrão. Seu corpo está velho e cansado, sua mente se perde frequentemente em recordações. Às vezes, ele até imagina a própria morte.
“Um senhor e um negro jamais poderiam ser iguais. Cachorro Velho sabia disso. Os negros nunca dariam chicotadas em uma criança que tivesse apenas apanhado um pedaço de pão. Ele nunca tinha visto Cumba matar outro homem de pancada, nem Beira cortar a orelha de alguém, nem Malongo estuprar uma mocinha... Todas aquelas atrocidades tinham vindo sempre dos brancos."
Agosto: A filha única - Guadalupe Nettel
Outro livro nada óbvio sobre maternidade (e o meu favorito sobre o tema).
É uma leitura desconfortável onde Guadalupe Nettel traz uma coleção de detalhes que são contados de forma muito profunda, fazendo com que a gente conheça o mais absurdo pensamento de cada uma das 3 personagens. São 3 mulheres que encaram a maternidade de maneiras diferentes, nos colocando em contato com a ideia da “mãe suficientemente boa”, que distancia a maternidade da figura idealizada da mãe que está pronta para atender todas as necessidades do filho.
As personagens atravessam a narrativa questionando suas faltas, vontades, desejos, funções e políticas que envolvem o ser-mãe.
Setembro: O parque das irmãs magníficas - Camila Sosa Villada
Camila foi uma das melhores descobertas literárias de 2024.
O Parque das Irmãs Magníficas é uma história sobre travestis, cheia de realismo mágico latino-americano, que nos insere em um lugar cheio de olhares preconceituosos, julgamentos, negação de direitos básicos e uma luta diária, surpreendentemente alegre, por sobrevivência.
"O que mais me dói é o meu próprio rancor. Enfurece-me tanto que o transformo em tudo: o alívio em tensão, a cortesia em maus-tratos, a franqueza em falsidade, a dor em raiva.”
O livro é uma autobiografia que compartilha de forma sensível e bastante realista a vida de Camila, desde a infância, como se descobriu travesti até a fase adulta, quando precisou sair de casa para ter a liberdade de ser quem era.
Outubro: Rinha de Galos - María Fernanda Ampuero
Esse livro ME DESTRUIU do começo ao fim (e eu amei).
É de uma violência descabida - não na escrita em si, mas nos fatos narrados sem filtro algum. Este é um livro sobre os laços e sua brutalidade quando se rompem, quando são atravessados pela perversão; um livro sobre como o espaço familiar, que deveria ser de proteção e segurança, é, em muitos casos, o lugar no qual se concretizam as violências mais indescritíveis.
Esse eu indico com alguma parcimônia: é cheio de gatilhos de abuso no geral, mas principalmente infantil. Não leia se for um tema sensível demais para você.
Novembro: O Acontecimento - Annie Ernaux
Eu me tornei fã de Annie Ernaux em 2023 e esse livro foi o responsável.
O acontecimento que dá nome ao livro trata-se de um aborto clandestino realizado por uma jovem estudante que, em 1963, se vê grávida e desamparada sem querer levar a gestação adiante e tendo que lidar com a violência de não poder interromper a gravidez.
É difícil falar sobre a beleza e a aflição com que Annie Ernaux escreve. Sua narrativa oscila entre aproximações e distanciamentos, entre o retorno ao passado e um olhar atual e mais maduro para ele.
Angústia, terror, fragilidade e frustração.
Dezembro: Luxúria - Raven Leilani
Li esse livro em 2020? 2021? e desde então não me esqueci mais dele.
A protagonista tem uns vinte e poucos anos e está tentando descobrir quem é e o que quer ser ― tudo isso enquanto trabalha numa editora e faz as piores escolhas amorosas possíveis. Pela internet, ela conhece Eric, um homem branco de meia-idade que tem um casamento aberto e com quem inicia um relacionamento (vale dizer que ela é uma mulher preta e bem consciente das tensões políticas, sociais, econômicas e identitárias).
Parece uma história simples, mas o livro aborda as consequências do capitalismo desenfreado a partir das experiências da personagem principal e também o racismo estrutural a partir das dinâmicas entre ela, o seu trabalho e suas relações.
Apesar do título - Luxúria - o livro fala mais de dor que de prazer. Mas, acima de tudo, diria que ele fala de mulheres e no que elas significam umas para as outras.
Como se já não tivesse dado sugestões o suficiente, deixo ainda o livro do próximo encontro do Clube de Leitura Um Passo, que vai acontecer no dia 26/01, às 15h 🇧🇷 18h 🇵🇹:
Um romance intenso que explora a dor do abandono e a reconstrução pessoal. A história acompanha Olga, que, após ser deixada pelo marido, enfrenta uma espiral de desespero, raiva e autodescoberta. Com uma escrita visceral e envolvente, Elena Ferrante aborda temas como identidade, papéis de gênero e saúde mental, criando uma narrativa que ressoa profundamente.
Mais uma vez: obrigada pelo apoio.