Comecei a escrever esse texto no meio de Dezembro.
A ideia inicial era falar sobre como o meu 2024 seria destinado a hobbies e como eu estava esperançosa de que isto fosse trazer de volta à minha rotina a criatividade e o movimento que eu sentia tanta falta.
Acontece que, no final do mesmo mês e no dia em que eu ia ao Brasil de férias, fui demitida. Eu meio que já sabia que isso ia acontecer (e se não acontecesse, eu mesma pediria demissão assim que voltasse). Nada dramático, a empresa só não tinha lá muita necessidade de ter um profissional da minha área e, mediante a um suposto corte de custos, me descartou. Acontece.
Massssssssssss, mesmo sendo algo esperado e que eu (nem tão secretamente assim) desejava, não foi legal. A insegurança e o medo das incertezas de um futuro muito próximo me apavoraram. Tive uma crise de ansidade que há tempos não tinha.
A alegria de finalmente passar o Natal com a minha família, depois de tantos anos morando fora, virou receio de gastar dinheiro e de “perder tempo”; afinal agora eu já não tinha mais uma fonte de renda e precisava urgentemente procurar outro trabalho.
Passei 10h no voo gerenciando uma quantidade absurda de pensamentos intrusivos que surgiam na minha cabeça. Cheguei ao Brasil desesperada por abraçar os meus pais e fingir que era criança de novo. E foi o que eu fiz. Foram 30 dias ignorando (na medida do possível) a minha realidade em Lisboa.
Por 1 mês eu quis fingir que a vida era “só” aquilo: meus pais pertinho, sorvete de milho, café forte da minha sogra, churrasco quase todo dia, praia e passar protetor nas costas do meu amor. Foi bom. Foi vital, na verdade.
Senti então que qualquer rascunho de futuro que eu traçasse ali seria irrelevante. Não era hora nem lugar para planos. Naquele momento, não havia nada que eu queria mais do que estar ali. Apenas existindo junto aos meus.
Mas agora eu estou de volta.
De volta ao inverno lisboeta que tem céu azul e um solzinho que engana a gente. Estou de volta para os meus cachorros, para os meus discos de vinil, para a minha geladeira com imãs de viagens.
E, com o corpo inteiro aqui presente, tenho encarado finalmente as minhas responsabilidades.
Sim, preciso de dinheiro para pagar o aluguel.
Não, eu não quero mais o formato “9h às 18h - híbrido com 3 dias de presencial - espero que este email te encontre bem - atenciosamente” de trabalho.
Pra ser bem sincera, acho que nem quero mais ter o mesmo tipo de cargo/ função. Pelo menos não do jeito e no ritmo de antes.
A busca por mudar o meu cenário, ganhar dinheiro e garantir os acessos que, até então, eu não tinha, fez com que eu tomasse decisões muito conservadoras, planejadas e seguras ao longo de mais de 10 anos trabalhando. Fiz escolhas que visavam algum “progresso” financeiro, algo que fosse capaz de pagar pelas coisas que eu tanto desejava. E posso dizer que isso deu certo de certa forma.
Inclusive, agradeço muito todo o esforço que fui capaz de fazer para mudar o meu destino.
Mas agora, aqui de 2024, sinto que é hora de ser guiada por outras razões. De construir uma rotina mais aconchegante, com atividades que coloquem em destaque a parte mais legal de mim e que foi negligenciada por tanto tempo porque eu precisava “ascender” na vida.
Então, antes de me candidatar a um monte de vagas, voltar à depressão do Linkedin e entrar em processos seletivos longuíssimos, vou dar vazão às minhas paixões. Eu nunca permiti que os meus interesses tivessem muito espaço na minha vida. Mas agora sinto que preciso me aproximar de coisas que nunca fiz, mas sempre gostei e quis experimentar.
Explorar terrenos que até agora eu só espiava com curiosidade pelo buraco do muro. Quero olhar pra trás e lembrar que encarei com coragem os primeiros meses do ano em que decidi, finalmente, ser fiel ao que acende luzes em mim. Vou deixar com que o meu desejo por estar perto de arte, música, comida, decoração e moda me guie.
Ainda não sei como isso será feito. Também não sei como será financeiramente viável. Mas estou pronta para abrir mão de alguns confortos para conseguir ter uma rotina preenchida por tudo aquilo que me emociona.
“Aprenda francês,
Yoga,
Caligrafia,
Dança de boate,
Rodopios,
Movimentos de natação sem água.
Preenche a tua agenda como se tu fosse uma criança de 8 anos com pais ocupados demais pra dizer: esse espaço vazio chama tédio.
E nele tu pode fazer o que quiser.
O que eu quiser?
O que tu quiser.
E se eu não souber o que eu quero?
Não faz nada.
Como é não fazer nada?
Descobre.
Porque o meu não é igual ao teu.
(…)
A questão é.
As horas não precisam ser todas preenchidas, camarada.
Não sei se tu sabe.
Eu mesma passei anos sem saber.
Achava que se eu não estivesse lendo,
escrevendo, arrumando um armário, inventando uma neura ou debatendo as entrelinhas de uma não resposta
eu não estava viva.
Aham.
Olha como de manhã cedinho o sol usa a persiana pra desenhar.
Imagina quando não existia chuveiro?
“As rosas falam”, disse o Cartola.
Então fecha o olho e escuta.
Tu saberia me dizer se teu chá tem gosto de nuvem, chuva ou montanha?
(…)
Não precisa ter tanto assunto, sabe?
Amanhã tu tira o creme do cabelo.
(…)
Calma, coração.
Exercita ser quem tu é.
Fica contigo um pouco.
Coleciona o domingo de hoje.
Deixa de obedecer tanto.
Ninguém precisa de instruções para iludir relógios.
Porque o tempo.
Foi a gente que inventou.”
Vou documentar as tentativas, descobertas, acertos e falhas dessa nova fase.
Inclusive, agora tenho mais tempo para me dedicar a newsletter (que fez 1 ano no dia 18/01!). Estou rascunhando algumas ideias para tornar as coisas mais legais pra vocês e pra mim.
É rápido, juro.
Para ler:
Como deixar a vida mais leve? - Epstemia no Instagram
Para ouvir:
Com Medo, Com Pedro - Gilberto Gil (“Deus me livre de ter medo agora depois que eu já me joguei no mundo” 💙)
mudanças que exigem muita coragem, e que ela não te falte! acredito que o caminho pelo qual está indo te aproximará de sua completude. vamos acompanhar muitos frutos que surgirão dessa "jornada" 💙
tb estou em mudança. mudando de estado, e mudando de concurso até o fim do ano para assumir outro mais flexível... é um desafio, e a palavra, mais uma vez, é coragem!