OK, só fazem 5 meses, mas não é que eu já aprendi algumas lições por ter parado de beber? Calma que eu não vou tentar converter ninguém a essa vida, mas é que tem sido tão bom pra mim que senti essa vontade de compartilhar os aprendizados que tive até agora. Então, se você também tem pensado sobre isso ou mesmo nunca questionou o seu hábito de beber, alguma coisa aqui pode te interessar. Sem moralismo, sem ditação de regra. Só a gente trocando aquela ideia gostosinha.
Apesar de ter começado a beber muito jovem, com muita frequência e em muita quantidade (risos), eu não tinha (tenho?) problemas com álcool. Não é como se eu tivesse agredido alguém ou caído e batido a cabeça por causa de uma bebedeira. Ainda que eu tenha uma coleção de cenas vergonhosas que protagonizei nesses anos todos, nunca foi sobre como as pessoas me viam e sim como eu me sentia antes, durante e, principalmente, depois de beber.
Fazendo uma retrospectiva, a sensação que tenho é de sempre ter me sentido desconfortável, ansiosa, envergonhada, culpada e… triste, não só durante a ressaca, mas nos dias que se seguiam após beber muito.
Mesmo que, a festa, o bar, o churrasco, a balada e etc tivessem sido divertidos, o “pós” era doloroso demais, eu sentia uma necessidade absurda de repassar todas as conversas que tive, lembrar de todas as pessoas que esbarrei, todas as músicas que dancei, tudo o que se passou durante o rolê na tentativa de encontrar algum absurdo que fiz ou falei porque estava bêbada. E isso podia desenrolar-se por dias. Assim o álcool que, supostamente servia como um meio de me relaxar e conseguir interagir socialmente de um jeito mais leve, acabava por se tornar um agiota que, no dia seguinte, vinha cobrar a ajuda que me deu na noite anterior.
Além disso, o álcool colaborava de maneira bem significativa com as minhas questões psicológicas. Os dois pézinhos que tenho na depressão e na ansiedade se afundavam mais a cada vez que eu bebia. E, de novo, não era só momentâneo. Um monstrinho se agarrava a mim e não soltava de jeito nenhum e, quando começava a se desgarrar, já era sexta-feira outra vez e ele voltava junto ao 1º drink. Com isso, aquele buraco emocional só aumentava.
E claro que já tentei parar de beber antes.
Algumas vezes com sucesso, outras nem tanto. Mas é a 1ª vez que sinto essa energia vital, clareza mental e vontade genuína de continuar sóbria. A razão? Não sei exatamente, mas acho que dessa vez tomei a decisão com base no meu bem estar de verdade; diferente das outras tentativas que, em sua maioria, eram sempre voltadas a melhorar (teoricamente) a minha imagem (que, anos depois, descobri que ninguém nem reparava).
Bom, o que posso dizer até aqui é que já consigo colher alguns frutos da sobriedade.
Já sinto, por exemplo, que me acolho, que entendo as minhas limitações e tento buscar soluções mais práticas, sem me crucificar antes. Sou mais amiga de mim mesma, sabe? Esse discernimento se estende para situações que envolvem outras pessoas também.
Outra coisa que tenho notado é o ganho de “alguma” autosegurança. A gatinha aqui sempre questionou a própria beleza, inteligência, presença e relevância em todos os lugares que circulava - da família à grupo de amigos e colegas de trabalho. Não que hoje eu ostente AQUELA AUTO ESTIMA, mas certamente agora me sinto mais segura nas minhas relações e já não levo tanta coisa para o pessoal. É como se eu tivesse recebido um aval para ser eu mesma.
Esse texto de estreia da newsletter não é pra dizer que você tem que parar de beber imediatamente.
Mas pra te fazer pensar um pouquinho sobre o seu consumo de álcool. A gente não precisa esperar até ter um problema sério pra questionar esse tipo de hábito; e é bom lembrar que nem toda pessoa que lida mal com essa substância se trata daquele tio recém divorciado deprimido; às vezes, pode ser aquele amigo super engraçado que tá sempre bebendo (mesmo em horários e lugares onde ninguém mais está).
Também não vou dizer que estar sóbria me livrou de todos os problemas.
Inclusive, ser mais presente na minha própria vida faz com que eu esteja muito mais consciente do que está acontecendo - lá fora e, principalmente, dentro de mim. O que traz uma percepção mais aguçada de tudo (e sim, nem sempre isso é bom).
Além disso, eu não só parei de beber como mudei alguns hábitos, então pode ser que as recompensas sejam resultado dessa mudança toda. Mas parar com o álcool foi um ótimo primeiro passo.
A Jana Rosa, minha musa da sobriedade, resumiu bem na newsletter da bonita de pele esses dias:
“Acordar de manhã se sentindo bem, sem ter deixado o corpo doente e estressado, lidar melhor com as emoções, principalmente com a tristeza e as frustrações, conseguir se conectar com as pessoas de uma maneira mais verdadeira e empática, não ter que fingir nenhuma situação ou se colocar em saias justas desnecessárias, e até saber a hora certa de ir embora. Quando você não precisa beber pra ser mais divertida, pra ter coragem ou pra se sentir segura, você realmente se conhece de um jeito muito verdadeiro que ficava escondido atrás da personagem que só vinha com os drinks. (...) Nunca vou me arrepender dos meus anos bebendo, porque me diverti muito e fiz muitos amigos, vivi as histórias mais loucas possíveis, nem sempre em segurança, mas felizmente estou vivona. Me arrependo de não ter aprendido mais cedo que eu podia encontrar outras maneiras de me achar uma pessoa mais completa e legal, pra gostar de mim e encontrar felicidade em outras situações, que não só doida, com a justificativa de que era aí que tudo ficava mais legal. A vida é legal demais, aliás, é muito mais legal sóbria.”
A sobriedade tem me dado mais espaço para criar uma vida mais condizente com o que eu acredito e quero pra mim. E tô curtindo muito isso. Essa versão de mim alegrinha e levinha, ai ai.
Tenta aí você também, se quiser. E se tentar, me conta como tá sendo.
Para ouvir:
Em português: Podcast Bonita de Pele: Existe vida sem álcool?
Em inglês: Podcast Anything Goes with Emma Chamberlain: Alcohol
Para se inspirar:
Instagram lindo com receitas de mocktails (drinks sem álcool)
Me identifiquei muito! Estou tentando reduzir o álcool desde agosto do ano passado, foi só com essa virada de chave que percebi a dependência para ser uma pessoa mais sociável e as histórias para contar que não são tão legais assim. Entendi também o problema geracional que minha família tem com a dependência, e a cada passo de reduzir percebo que quero descobrir mais quem sou sem essa máscara ou mesmo outras que peguei ao longo da minha vida para esconder todas as inseguranças. Obrigada pela reflexão, inspirou muito por aqui!
Traz muita lucidez no texto, realmente parar de beber álcool é uma experiência de alto conhecimento. Avaliar a minha volta, o meio que convivo, locais que vou, etc. Ver locais/pessoas que me relacionava apenas estando alcoolizada e hoje não consigo me identificar em nenhum grau e profundamente não faz falta alguma, é um pouco libertador.